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domingo, 22 de maio de 2011

Conversa de Mulheres - Mulheres da Economia Solidária

Fonte: Shirlei Aparecida Almeida Silva

Uma crônica sobre Economia Solidária e "Casamentos Arranjados"

Conta a história, que bem recentemente as mulheres, ainda meninas, eram obrigadas a se casarem precocemente sem o seu desejo e consentimento e, em muita medida, não sabiam nem do que se tratava.

Segundo os seus tutores elas não precisavam saber e entender do assunto. Na maioria das vezes, as meninas não conheciam nem tinham idéia de quem seriam os seus futuros maridos, no máximo sabiam de qual família vinham, mas sempre tinha alguém dizendo a elas: vai ser lindo; ele é um príncipe; vai ser bom para a nossa família e ele vai te dar presentes; você vai freqüentar outros mundos e conhecer gente nova. Em muitos momentos, os interesses que levavam as famílias, ou melhor, os homens, seus pais, irmãos mais velhos ou tios, eram a perpetuação da família e/ou interesses econômicos de acúmulo e aumento da riqueza. Quando as meninas choravam dizendo que não queriam, eram reprimidas e até mesmo ameaçadas, pois tinham que servir a família e cumprir o seu papel de mulher.

Não sabemos dizer como era para os noivos, creio que para os meninos que eram obrigados a se casar também precocemente a coisa também não era fácil, mas deixo para os meninos nos contarem depois.

Hoje, em alguns lugares, esta prática ainda perdura, e, em outros, a coisa ainda é mais grave: as meninas são vendidas para o tráfico de órgãos, ou mesmo para serem escravas sexuais. Meninas de 10 ou 12 anos, nascidas no final do século passado ou início deste, que na tenra infância, conhecendo a vida, cheias de alegria, entusiasmo e beleza, têm suas vidas roubadas e interrompidas.

Isto é considerado pela ONU como prática do abuso sexual de crianças e adolescentes e é denunciado em todo o mundo, seja pelos movimentos de direitos humanos, seja pelos movimentos de crianças e adolescentes que lutam por uma infância saudável, seja pelo movimento feminista que empunha a bandeira pelos direitos das mulheres e meninas. Estas práticas e outras de exploração, levaram a criação no Brasil, do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes, coincidentemente é o dia 18 de maio, comemorado ontem, e que me levou a esta prosa sobre conversa de mulheres e para mulheres.

No mundo da economia solidária e porque não dizer economia feminista, uma vez que tem mais mulheres que homens no diferentes recantos deste país, coisa semelhante está acontecendo no Brasil. A economia solidária, ainda na sua tenra infância, pode-se dizer jovem ainda, tem como princípios uma economia feminina, cuidadosa, pautada por um desenvolvimento endógeno, comunitário e inclusivo pela vida. Vem escrevendo a sua história e sonhando com uma sociedade justa e inclusiva, mesmo ainda jovem, quase criança ainda teve a coragem e capacidade de escrever um projeto de lei completo, que cria um fundo, um sistema, que normatiza e apresenta ao Brasil uma grande oportunidade para fazer política pública real, baseada no desenvolvimento inclusivo e solidário, em parâmetros de justiça e solidariedade, dialogando e respeitando as mulheres, as comunidades tradicionais, toda a diversidade brasileira e atendendo um anseio antigo dos seus antepassados, os movimentos sociais do campo e da cidade, que sempre tentaram criar no Brasil justiça econômica e novas relações de respeito e inclusão e foram interrompidos brutalmente pelo sapato, pela bota ou melhor pelo coturno da ditadura militar de 1964.

Este jovem movimento, com centenas e milhares de mulheres que estão cotidianamente no campo e na cidade, nas universidades, nas organizações sociais, nas favelas e zonas de conflitos, nas comunidades tradicionais e mais esquecidas deste país, mulheres que estão “amansando leões” para sobreviver neste mundo capitalista e/ou porque não dizer machista, onde impera o acúmulo de riqueza para poucos em detrimento da grande maioria. Mulheres que com todo seu cuidado, sabedoria popular, paciência histórica e tolerância, vêm mostrando que é possível fazer política a partir das bases, com as bases, construída com o pé no chão de baixo para cima, em construções coletivas e virtuosas.

Estas mulheres, as mulheres da economia solidária, no aniversário da implantação da ditadura militar no Brasil, 31 de março, dia de tristeza e dor, de protesto e dia de rememorar aquilo que aconteceu no Brasil e que nunca podemos esquecer, pois foi neste dia que receberam do governo federal o PL 865, onde propõe que a economia solidaria se junte às micro e pequenas empresas dentro de uma Secretaria Especial de Micro e Pequenas Empresas, com status de Ministério. Um PL que chegou sem mais nem menos, como uma espada, bem fálica, sem diálogo nenhum, sem consultas, de cima para baixo e sem nenhuma outra opção a não ser o “pegar ou largar”, desrespeitando o movimento de economia solidária e até mesmo as estruturas de governo existentes – secretaria e conselho. Com conversa que esta, é a oportunidade para economia solidária se emancipar com o casamento, se juntando com às micro e pequenas empresas institucionalmente numa política de governo.

Naquele momento, muita gente principalmente os mais simples, fizeram uma associação direta deste processo do PL 865 no Brasil com aqueles casamentos impostos ao longo da história como o que descrevi no início desta nossa conversa.

E das maneiras mais diferentes, de vários cantos do Brasil, dos diferentes setores, ouve-se um forte grito, NÃO, NÃO ACEITAMOS ESTA IMPOSIÇÃO, este rolo compressor. Primeiro se pediu tempo, pera aí, deixa o povo respirar, o que é isto? Não foi isto que solicitamos, não desejamos isto, qual é a justificativa para isto, de onde está vindo esta proposta? Quais os motivos que levam a isto? Quem foi que pediu isto? Vozes dizendo que antes mesmo deste casamento que já se faça o divórcio. Nenhuma das perguntas foi respondida, mas veio a ordem: a coisa já está dada, não adianta choramingar...

As semelhanças com os casamentos arranjados, não acabam por aí, aqui também, a proposição é imposta por aqueles que incorporam o modelito “machista, branco e burguês”: querem obrigar a que se aceite, que se entenda que este processo é necessário. Que vai fazer bem para a família, que num futuro próximo com o conhecimento e o convívio irá ser um bem para todas/os. Que ao desabrochar a jovem economia solidária se case logo, pois o noivo é um príncipe, tem riquezas infinitas, vai levá-la de braço dado para festas e cobri-la de presentes.

Mas, as jovens não querem que lhe arranjem casamentos, as MULHERES não querem príncipes, as mulheres não se deixam levar mais pelos contos da carochinha, as mulheres querem ser livres, querem definir e construir o seu próprio destino, querem uma sociedade livre de todo tipo de opressão, seja de classe, seja de gênero, seja de raça, seja do estado.

A economia solidária, esta economia feminista também tem novidades, não quer casamento arranjado, já tem seus próprios interesses, apesar da tenra idade já tem conversado e até flertando com a Agroecologia, com os Catadores, com os Quilombolas, com a Agricultura Camponesa, com a Territorialidade. Vejam bem, se quiserem realmente contribuir para a felicidade da economia solidária, podem contribuir com estes flertes, ele pode se transformar em namoro e quem sabe isto vira casamento duradouro, feliz, parceiro e livre sem imposição....

Por está falando de mulheres, lembra-se também o seu papel nas revoluções da história. É inegável o papel das mulheres nas revoluções, que foram e são fundamentais e imprescindíveis. As mulheres na verdade causaram todas as grandes revoluções da história, seja nos relatos bíblicos onde vemos a coragem de Eva de comer do fruto do conhecimento e dar coragem aos homens para saírem do jardim do Eden; seja como Miriam na frente dos exércitos, cantando e dançando animando os homens a enfrentarem o inimigo real; seja como Maria parindo o filho de Deus e dando esperança para o mundo; seja na Rússia em 1917, quando os homens estavam com medo de serem massacrados foram às mulheres que fizeram as greves e mobilizações; seja na Argentina na praça de maio, durante a ditadura militar, gritando pela vida dos seus filhos; seja na ditadura brasileira se juntando a luta dos movimentos sociais e fazendo a revolução até chegar à presidência da república neste país – Dilma é fruto disso; seja as mulheres de hoje da Tunísia e do Egito, com véus e burcas, mas nas ruas se manifestando dizendo não ao autoritarismo, não à opressão.

Gente, a história das mulheres é história de coragem, de luta, de enfrentamento, seja para parir um filho, seja para gerar vida nova na sociedade. Segundo o Alan Woods no seu diálogo com a CUT (entrevista da Revista Caros Amigos deste mês de maio), veja que é um homem que está dizendo:

-“as mulheres normalmente são mais valentes que os homens. É um paradoxo, os homens participam dos espaços públicos, dos sindicatos, da política, eles aprendem a manejar o jogo político com suas regras. A mulher não, quando ela se indigna não se importa com regras, jogos, leis, tradições, exército, polícia, nada. São incrivelmente fortes.”

Nos sentimentos, me vem as atividades em Brasília nestes dias 17 e 18 de maio de 2011, que registro como um dia do feminino e o outro do masculino:

Podemos dizer de um dia do feminino, 17 de maio de 2011, na Audiência Nacional do PL 865 com toda diversidade presente, um dia de lua cheia (plenitude do feminino), as mulheres falando e dando o seu recado do seu jeito, ora cantando, ora se indignando, mas da sua maneira se manifestando durante a audiência pública nacional que discute o PL 865 e economia solidária, no final uma beleza, todas/os juntas/os cantando em uma ciranda com a bandeira da economia solidária. Com boas energias, com alegria e partilhando a vida...

No outro dia, 18 de maio, o império do masculino, fálico e machista, também o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração contra Crianças e Adolescentes, dia de várias mobilizações, luta e enfrentamento em Brasília. Vejo o lançamento da frente parlamentar mista de economia solidária, com as suas regras rígidas e aquele mar de gravatas, todos dizendo como que se tem que fazer, sentir, se comportar e dizer. Dá para compreender a reação das mulheres que não se calam, não aceitam as regras do jogo e da maneira da gente simples, não se deixam intimidar, não fecham a boca mesmo, nem que seja resmungando dão o seu recado ou vão saindo e deixando o espaço esvaziado, sem participação, sem vida......

E neste momento, diante de tudo que estamos vendo, enquanto mulher, filha de negros e índias, também digo: PERA AÍ!.

Digo pera aí ao governo, à nossa presidenta Dilma e no dizer das mulheres simples da minha terra:

- mulher de Deus, vem cá, me conta aqui, o que tá acontecendo? Pelas caridades escute a voz das suas irmãs de luta, irmãs de sangue, este, derramado dos nossos corpos pelos séculos de opressão, este sangue que move a vida, a vida de centenas de mulheres que na sua maneira simples de ver a vida querem simplesmente o direito de trabalhar de maneira associada, cooperada e sustentável, querem dignidade e poder cuidar da vida.

- que neste mundo machista e masculino se falam muitas meias verdades, discursos longos e complicados, dificultam tudo e às vezes não dão conta nem de vestir uma meia sem pedir ajuda, imagine se tivesse que combinar as cores, os temperos, os modelos e ainda cuidar da vida e da pátria e ficam querendo dizer como temos que nos portar, que se não for do jeito deles, que eles pegam a bola colocam debaixo do braço e param de brincar, ficam emburrados, vão saindo batendo a porta, magoados, se fazendo de coitados.

- Olha, a coisa tá feia, vamos prosear? Bater um papo, dialogar? Uma conversa de mulheres? Estamos, nós mulheres da economia solidária, te chamando para tomar um chá, tomar um café, vamos sentar juntas, pode ser na beirada do fogão, lá na nossa casa, ou se você preferir pode ser na sua casa mesmo. Mas vamos prosear, vamos fazer política cuidadosa, do jeito das mulheres, vamos fazer política feminista, escutando da nossa própria boca, sem interpretes, o que temos a dizer. Também companheira, queremos ouvir da sua própria boca o que você tem a nos dizer, sem mandar recados. Pois acreditamos que podemos nos entender muito bem sem intermediários, POIS SOMOS MULHERES!!!....

- Sabemos que juntas podemos fazer muito pelo nosso Brasil como temos feito no mundo, sabemos que temos a preocupação com que nenhum filho nosso chore com fome ou sem trabalho, também sabemos a dor das nossas companheiras e não queremos ouvir o choro dos filhos delas, seja por fome, por dor ou desilusão, pois são nossos filhos também.

- Dilma, ainda acreditamos que este país tem jeito, nós mulheres da economia solidária, nos juntamos a você na campanha, na luta para que o Brasil não retrocedesse e temos muitas histórias para te contar, da luta pelos votos, da luta contra todas as mentiras e besteiras que estavam dizendo de você e de todas as mulheres, cada coisa que em algum momentos tínhamos que rir, tal era o desespero de muitos HOMENS em ver a possibilidade de uma mulher conquistando a presidência da república. Sabemos que você também tem muita coisa para partilhar conosco e podemos construir políticas públicas reais e eficazes e ajudar o Brasil a passar para um outro patamar na sua história e no mundo na superação da pobreza.

- Temos também que te contar da nossa vida, na nossa luta que sabemos que em muitas medidas você conhece bem e com certeza vai ser mais uma na economia solidária e vai ser com o mesmo entusiasmo que você teve lá em São Paulo, quando na campanha visitou uma das nossas companheiras e se comprometeu em apoiar a Lei da economia solidaria. Temos o vídeo, o registro da sua fala e sempre assistimos juntas, relembrando a sua fala que alimenta o nosso sonho.

- Dilma, a economia solidária é bem diversa, uma beleza. Na nossa conversa você vai conhecer de perto, vê que produzimos de quase tudo, desde alimentos sem veneno até vagão de trem, fogão, confecção, artesanatos lindos, muita música, poesia, clubes de trocas, agricultura camponesa, agricultura urbana, somos quilombolas, somos indígenas, somos grupos de cultura, pessoas com sofrimento mental, finanças solidarias em fundos rotativos, bancos comunitários com moedas sociais, cooperativas de créditos, fazemos formação e assessoria técnica pautada na educação popular, criamos tecnologias sociais nas universidades, entidades da sociedade civil e empreendimentos, estamos criando leis neste país a fora em diferentes estados e municípios. Temos fóruns organizados em todos os estados e muitos conselhos implantados e funcionando. Tudo isto sendo feito no coletivo, sem patrão nem empregados.

Dilma esta beleza toda tem devido a burocracia se configurado, enquadrado, reduzido em formatos jurídicos tais como: empresas s.a, ltda, cooperativas, associações, micro empresas, MEI e muita gente no informal. Mas, isto é bem parecido com o que aconteceu com a população negra no Brasil que tiveram que deixar para traz a sua história e o seu nome e a identificação de sua origem tribal. Aqui foram batizados com um nome cristão e os sobrenomes que recebiam eram os mesmos de seus senhores, ou de origem religiosa, Batista, do Espírito Santo... Ou como os Silva, que eram aqueles que não se sabiam de onde vinham. Ou seja, não foi aceito que os negros tivessem o seu próprio sobrenome, foi imposto um sobrenome arranjando pelos poderosos da época. A economia solidaria não quer um sobrenome imposto, tem até usado alguns por falta de opção e por força da burocracia. E o Brasil tem perdido a oportunidade de entrar para a história inovando. Em alguns países irmãos, tem saído na frente pois já reconhecem empresas sociais, ou cooperativas sociais, que ainda não dão conta da diversidade da nossa realidade brasileira, mas já são avanços.

- Amiga, queremos ter o nosso próprio sobrenome, queremos ter o direito de dizer que somos Empreendimentos Econômicos Solidários, com legislação própria, com tributação sim, mas observando a diferença, podendo com orgulho da nossa raça brasileira, dizer quem somos e a que viemos. Tem uma legislação assinada pelo então presidente Lula, o decreto n. 7.358 de 17 de novembro de 2010, que cria o Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário, reconhece este segmento – empreendimento econômico solidário – EES como um ator legítimo e digno de políticas públicas específicas. Dá uma olhada neste decreto que você vai vê o que significamos e como estamos produzindo, comercializando e consumindo neste país.

- Vamos marcar uma prosa entre mulheres, vai ser lindo o dia do nosso encontro: A presidenta Dilma com as mulheres da economia solidária por um Brasil justo, inclusivo e solidário para com todas as vidas deste país continental que nós da economia solidária o conhecemos tão bem, pois estamos onde as políticas não chegam, onde o povo tem fome de justiça, onde o povo tem pressa....

Estamos te esperando para uma conversa de mulheres, viu?

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O Analfabeto Politico.

O Analfabeto Politico.
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais. Bertold Brecht

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